terça-feira, 28 de agosto de 2012

Dúvidas sobre embolização de miomas






Existem situações onde a embolização não possa ser indicada?

Algumas mulheres apresentam patologia associada com os miomas, como pólipos, endometrosis, etc. Nestes casos a embolização deve ser adiada ou evitada até resolver os outros problemas. Pacientes com infecções de repetição, que tenham sido submetidas a irradiação pélvica ou com sérios problemas sistêmicos, como insuficiência renal ou diabetes descompensada devem evitar a embolização. A alergia severa ao iodo pode também ser uma contra-indicação formal para realizar uma embolização.

De forma geral não há uma limitação para indicar a embolização devido ao tamanho, quantidade e/ou localização de nódulos miomatosos. Miomas muito grandes podem ser tratados com embolização da mesma forma que os pequenos. Pacientes com obesidade mórbida podem representar uma limitação estrutural já que a maioria das mesas angiográficas resistem peso de até 150kg. Se o peso do paciente for maior será necessário providenciar uma estrutura apropriada.

De que tamanho ficam os miomas e o útero após a embolização?

A experiência universal mostra que a embolização produz uma redução do tamanho uterino de aproximadamente 50% só nas primeiras 12 semanas e está diminuição continua a acontecer durante o primeiro ano após o procedimento. A redução de tamanho dos nódulos miomatosos é bastante variável. Nódulos maiores tendem a reduzir proporcionalmente mais do que nódulos menores. Em alguns casos os nódulos desaparecem por completo. Todavia o mais comum é observar uma redução no tamanho do mioma dominante (maior) de aproximadamente 65% durante os três primeiros meses após a embolização.

O que acontece se o tamanho de alguns miomas não se altera após a embolização?

É fundamental que se compreenda que o tamanho do útero e dos miomas não é o mais importante. O que realmente importa são os sintomas que estes provocam. Se após a embolização houve melhoria dos sintomas (diminuição do fluxo menstrual ou da sensação dolorosa) o procedimento pode ser considerado um sucesso. Se houver miomas que não regrediram em seu tamanho pode ser devido ao fato de já estarem isquêmicos antes da embolização o que acontece algumas vezes como parte da evolução espontânea da miomatose. Todavia, se a paciente continua apresentando sintomas após a embolização e os nódulos não regridem de tamanho isto pode indicar que não foi feita a embolização de forma apropriada ou que houve aparecimento de circulação colateral ou ainda que existe uma patologia associada como a adenomiose.

Existe algum tipo de treinamento específico requerido pelos médicos que fazem embolização uterina?

Sim. A embolização é uma técnica de radiologia intervencionista que não é exclusiva para tratar miomas e há mais de 30 anos que se aplica para tratar numerosos problemas como aneurismas, hemorragias, malformações vasculares, tumores, traumas, etc. Existem vários programas de treinamento e cursos de pós-residência para formar profissionais capacitados para realizar procedimentos minimamente invasivos de radiologia intervencionista. Os profissionais capacitados e habilitados para fazer este e outros tipos de procedimentos intervencionistas devem possuir o Título de Especialista em Angiorradiologia e Radiologia Intervencionista outorgado pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e Associação Médica Brasileira.

A embolização apresenta risco e complicações como a cirurgia convencional?

A medicina não é uma ciência exata e nenhum procedimento médico está livre de riscos. Já foram relatados na literatura médica mais de 25.000 procedimentos de embolização uterina e somente 1(um) óbito foi reportado o que demonstra que é um procedimento muito seguro. A incidência geral de complicações que requeiram duma terapia mais agressiva ou que prolonguem o tempo de internação esta entre 1 e 2%, o que é significativamente menor aquela apresentada pelos procedimentos cirúrgicos convencionais que pode variar de 4 a 8%.

Quantas pacientes que realizam embolização requerem de histerectomia ou miomectomia posteriormente?
Deve-se diferenciar a necessidade de um procedimento adicional por causa de insucesso terapêutico (continuidade ou recorrência dos sintomas) daquele realizado para tratar uma complicação.
Aproximadamente 4 a 7% das pacientes continuam a apresentar sintomas desconfortáveis após a embolização e são então submetidas a miomectomia ou histerectomia. Isto pode acontecer por erros no diagnóstico, por falhas técnicas do procedimento, pela presença de variações anatômicas, etc. Tivemos alguns casos que após a embolização continuaram a apresentar sangramento e então decidiram fazer histerectomia.

No estudo anatomapatológico do útero retirado verificou-se que as pacientes tinham adenomiose e não miomatose. Tivemos também dois casos nos quais fizemos miomectomia após a embolização devido à presença de miomas subserosos isquêmicos. A associação entre embolização e miomectomia é cada vez mais empregada para tratamento de pacientes com útero muito volumoso e com múltiplos nódulos.

É importante salientar que a embolização uterina jamais inviabilizará uma cirurgia caso esta seja eventualmente necessária no futuro. Por isto a embolização deve ser sempre considerada antes da cirurgia.
Estima-se que uma histerectomia devido a infecção uterina possa acontecer a cada 500 vezes.

Há alguma restrição de idade para realizar embolização uterina?
Não existe restrição de idade. Embora não é o mais comum, temos visto mulheres jovens que tiveram a sua primeira menstruação bem cedo e que antes dos trinta anos começaram a sentir sintomas desconfortáveis por causa de miomas. Geralmente tem um familiar direto também com historia de miomas. Temos visto tambem mulheres de 50 e até 60 anos que, embora já na menopausa, apresentam sangramentos porque utilizam a terapia de reposição hormonal (TRH). Em todos os casos a embolização pode ser indicada e na maioria das vezes com extraordinário sucesso.

Com que tamanho de útero começam aparecer os sintomas?

Não existe uma regra para isto. Mulheres com um útero pequeno e poucos nódulos podem ser extremamente sintomáticas. Outras mulheres somente reparam o crescimento da barriga sem sentir dor ou alteração menstrual. Às vezes, simplesmente acham que estão “gordas” ou ate “grávidas”.

O que os médicos acham da paciente que apesar dos miomas estarem crescendo decidem não fazer qualquer tratamento?

A decisão de mudar uma situação desconfortável não compete aos médicos. O papel do médico é orientar e transmitir informação da forma mais honesta e didática para facilitar a tomada desta decisão que invariavelmente compete à própria paciente. Os miomas devem ser tratados quando a paciente sente que seus sintomas requerem de tratamento. Lembre-se que os sintomas provocados pelos miomas são muitas vezes bastante subjetivos e dependem de conceitos sociais e culturais. Existem mulheres que quando menstruam usam fraldas mas acham que isto é uma situação normal. Algumas mulheres toleram sintomas desconfortáveis durante muito tempo antes de considerar a possibilidade de recorrer a algum tipo de tratamento.

Uma mulher que já fez miomectomia e os miomas voltaram a crescer pode fazer embolização?

Sim. A miomectomia tem por objetivo extrair os miomas preservando o útero. Todavia como na maioria das vezes os miomas são múltiplos, a miomectomia não consegue extrair todos eles. Como o estimulo hormonal e a tendência a formar miomas permanecem inalterados na paciente, é muito provável que voltem a aparecer miomas mesmo após a miomectomia. Aproximadamente 20% de mulheres que fizeram miomectomia voltam a ter sintomas pelo crescimento de novos nódulos. Nestes casos a embolização é o melhor recurso para tratar os sintomas e evitar uma histerectomia.

Se a paciente estiver anêmica deve tratar a anemia antes de fazer embolização?

Em geral não é obrigatório tratar previamente a anemia para poder fazer embolização. No caso de uma cirurgia isto é mandatário porque podem ocorrer sangramentos importantes durante a cirurgia, mas isto não existe durante a embolização. Em quase 200 casos já realizados jamais tivemos que transfundir uma paciente.

A embolização pode provocar alterações hormonais?

A maioria das pacientes que realizam embolização uterina volta a ter a sua menstruação normal imediatamente após a cirurgia. Aproximadamente 10% das pacientes apresentam ciclos irregulares durante 3 a 6 meses após a embolização. Menos freqüentemente uma mulher pode entrar na menopausa após a embolização. Estima-se que entre 1 e 15% da população geral submetida a embolização possa entrar na menopausa após o procedimento, todavia esta possibilidade esta relacionada principalmente com a idade da paciente, sendo menor que 1% nas mulheres com menos de 40 anos e maior que 20% naquelas com mais de 45 anos. Alterações hormonais parecem ser um pouco mais freqüentes após histerectomia do que após embolização.

O que acontece com o material plástico que é utilizado para embolizar?Pode ocorrer algum tipo de reação alérgica a este material?

O PVA (poli-vinil-alcool) é um material sintético utilizado ha pelo menos 20 anos para fazer embolizações e não existe na literatura médica nem na experiência profissional qualquer relato de reação alérgica a este material. Embora provocam uma embolização permanente as partículas de PVA são degradadas pelo corpo muito lentamente.

Qual é a probabilidade de engravidar após a embolização e quanto tempo após a cirurgia posso começar a tentar?

Este é um assunto controvertido e não ha ainda uma resposta definitiva. Alguns trabalhos já publicados na literatura médica indicam que a possibilidade de engravidar gira em torno de 30%, isto é uma de cada três pacientes que desejam, conseguem engravidar. Esta possibilidade parece ser bastante similar com a obtida após a miomectomia. Para as pacientes que desejam engravidar pedimos para aguardar pelo menos 12 semanas até fazermos o controle com os estudos de imagem, ultra-som ou ressonância magnética, antes de tentarem engravidar.

Devo usar métodos anticoncepcionais após a embolização?

A embolização uterina não elimina o potencial de fertilidade. Numerosas pacientes já engravidaram após fazerem embolização uterina. Por tanto, se não desejar engravidar após a embolização o correto será manter os métodos anticoncepcionais.

Com que frequência ocorre a eliminação de miomas pela vagina após a embolização? É muito doloroso?

Muitas, se não a maioria das pacientes apresentam um corrimento de cor castanho depois da embolização. As vezes simula uma menstruação discreta e é acompanhada de pequenos fragmentos de miomas que migram desde a camada interna do útero. Isto dura geralmente de uma a três semanas embora possa se extender por um período de tempo maior. Geralmente não provoca odor desagradável ou causa qualquer incomodo para as pacientes.

Aproximadamente 5% das mulheres poderão eliminar uma porção maior de um mioma. Nestes casos pode haver dor de tipo cólica e sintomas similares ao de um aborto. Quando ha um mioma retido na cavidade uterina geralmente provoca um odor intenso e uma secreção diferente. Às vezes é necessário prescrever antibiótico e esvaziar a cavidade uterina com uma curetagem. Embora não seja o objetivo da embolização, a eliminação de miomas através da vagina provoca um alivio enorme na sintomatologia das pacientes.


Fonte: terra.com